O que parecia um apartamento vazio no último andar de um prédio tranquilo na capital croata revelou um dos casos mais inquietantes de solidão urbana da história recente da Europa.

O corpo de Hedviga Golik, nascida em 1924, foi descoberto em maio de 2008, mais de três décadas após sua morte — possivelmente em 1973 — sem que ninguém percebesse sua ausência.
Moradora de um pequeno sótão de 18 metros quadrados em Zagreb, Hedviga vivia sozinha e era considerada excêntrica pelos vizinhos. O isolamento e o estilo reservado contribuíram para que seu desaparecimento não fosse notado por ninguém por mais de 30 anos. A descoberta chocou autoridades e moradores, levantando questionamentos profundos sobre abandono, burocracia e invisibilidade social.
Como tudo veio à tona
O corpo de Hedviga só foi encontrado quando operários entraram no apartamento para resolver questões legais ligadas à posse do imóvel. Ao arrombarem a porta, depararam-se com uma cena congelada no tempo: Hedviga estava mumificada em sua poltrona, com uma xícara ainda sobre a mesa, e jornais datados de décadas anteriores espalhados pelo chão.
Apesar de muitas versões sensacionalistas afirmarem que a televisão ainda estava ligada, investigações oficiais nunca confirmaram esse detalhe. Na verdade, essa parte da história parece ter sido incorporada a partir de um caso semelhante ocorrido em Londres com outra mulher, Joyce Vincent, em 2006.
Por que ninguém notou?
Durante todos esses anos, as contas básicas, como luz e água, continuaram sendo pagas automaticamente, graças a um antigo morador do prédio que cuidava dos registros e que faleceu em 2005. O apartamento, por estar no sótão e ter entrada independente, era pouco acessado. Vizinhos acreditavam que estava desocupado.
Além disso, a circulação de ar no local e o clima frio contribuíram para que não houvesse odor de decomposição, o que impediu suspeitas ao longo do tempo.
A vida de Hedviga
Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Hedviga Golik. Registros indicam que ela havia trabalhado como funcionária pública nos tempos da antiga Iugoslávia. Pessoas que a conheceram dizem que era uma mulher discreta, com hábitos reservados, o que, infelizmente, contribuiu para que sua morte passasse despercebida.
Reflexo de um problema maior
O caso de Hedviga Golik despertou reflexões profundas na sociedade croata e além: Como é possível que alguém desapareça dentro da própria casa sem que ninguém perceba? Em tempos de crescente urbanização, esse caso serve de alerta sobre o isolamento social, o descaso institucional e a falta de redes de apoio para pessoas idosas e solitárias.
“Não é apenas uma tragédia individual. É um espelho da nossa indiferença coletiva”, declarou uma assistente social envolvida na investigação.
Hoje, mais de 15 anos após a descoberta do corpo, a história de Hedviga ainda circula pelas redes sociais, muitas vezes distorcida, mas sempre carregando o mesmo recado silencioso: ninguém deveria desaparecer sem ser notado.